quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Treinadores Adjuntos - Fazem Sentido?

Ao navegar pela net, deparei-me com dois post do Francisco Fardilha Treinador U-18 ASD Roma 5. Curioso pensei eu...

Se pensarmos um pouco nas potências do Futsal Europeu, constato que realmente a Itália sendo uma dessas potências, depara-se com uma realidade muito próxima daquela que conheço, o Distrital da AFS de Futsal. Constato de que a equipa onde iniciou este projecto é a única que tem um Treinador com habilitação federativa. Achei muito curioso e engraçado os temas abrangidos por tais assuntos e estando totalmente de acordo, gostava de transcrever algumas passagens. pois considero estarem muito próximas da realidade que vivo, a de responsável desportivo de um grupo de homens e rodeado por pessoas especializadas e competentes. Gostaria também de realçar, para quem não conhece a realidade do RCVC, de que sendo eu o responsável tenho a grande ajuda de dois excelentes companheiros, o Ferrinho prof. de Educação Fisica e o Rui Vardasca animal da quadra e mestre do Balneário. Isto para poder dizer de que no RCVC, não existe principais nem adjuntos, somos grandes e bons amigos que por carolice, investimos todos o nosso tempo pessoal em prol de um sonho, o de fazermos história regional representando um clube com um vasto historial no panorama do Futebol Salão e Futsal nacional. Ora tomem atenção...

As hierarquias são sem dúvida necessárias para uma sã e eficiente organização da sociedade. Como parte integrante da sociedade, também os clubes e, por consequência, as equipas, necessitam de hierarquias. Mas, no meu entender, já lá vai o tempo em que o conceito-chave era o "poder". Hoje, deve trocar-se essa palavra por "responsabilidade".

Na constituição de uma equipa técnica, não concebo que haja um indíviduo que manda e outros que obedeçam. Tal como numa equipa dita "normal", composta por jogadores, não concebo que haja um jogador que mande e os outros sejam dispostos num patamar de inferioridade. Há um capitão, símbolo que corporiza os valores daquele clube, exemplo para os demais. Igual aos demais nos direitos, mas com uma carga quiçá mais pesada de deveres. Tal como o líder de uma equipa técnica.

A palavra "treinador principal" refere-se, actualmente, àquele que exerce funções de coordenador de um grupo de especialistas que laboram, conjuntamente, no sentido de conseguir que os jogadores, individual e colectivamente, atinjam o seu desempenho máximo.

Lembrei-me de vos falar desta questão porque, à chegada a Roma, a equipa possuía apenas um treinador e um dirigente responsável por tratar do material de treino e das questões administrativas relativas ao campeonato e inscrições. Basicamente, esperava-se do mister Bonnani um "super-homem": teria de ser competente ao nível das capacidades motoras, técnico-táctica, medicina desportiva, psicologia, leis do jogo, etc. Não referi estas "disciplinas" ao acaso. São, na maior parte, aquelas que são leccionadas nos cursos de treinador.

No entanto, é preciso que aqueles que assumem as funções de coordenador - ou treinador principal, como lhe quiserem chamar - entendam que, apesar de habilitados, têm apenas noções da generalidade das disciplinas e não verdadeiro conhecimento. Urge, assim, que, se imbuídos de verdadeira ambição e espírito competitivo, se rodeiem de pessoas especializadas nas áreas que pior dominam. Ganham assim, logo à partida, grande vantagem relativamente aos adversários, que apostam numa só pessoa para fazer tudo.

É certo que muitos treinadores podem dizer que é, muitas vezes, o nome deles apenas que aparece nos jornais. Que é deles a maior responsabilidade, que é isto e aquilo. Mas entendam: se tivermos pessoas competentes a trabalhar connosco só temos a ganhar. O nosso nome ganha credibilidade e os dos nossos colaboradores também.

Mas atenção: o facto de alguém ser licenciado em Educação Física, em Psicologia, em Fisioterapia e afins, não significa, à partida, que seja uma boa "contratação" para um staff técnico. Uma personalidade compatível com os demais e, acima de tudo, a comunhão por uma mesma paixão - o futsal - são factores determinantes para a constituição de um bom grupo de trabalho e uma liderança forte e coerente.

Porque acho os treinadores-adjuntos uma inutilidade nos dias de hoje? Porque, no fundo, na acepção tradicional da expressão, os indivíduos - vulgos "braços-direitos" - a quem compete ser apenas "yes men", já não fazem sentido.

Mesmo aqueles que se juntam a um "coordenador" no sentido de aprender, devem ter uma função específica dentro da equipa técnica e um certo grau de autonomia no seu trabalho. Não devem ser meros ajudantes, inferiorizados pelo facto de, à data, não possuirem tantos conhecimentos como os outros. Devem, dentro das suas potencialidades, ser aproveitados. E, acima de tudo, devem ser ouvidos com seriedade e atenção. Porque muitas vezes, há coisas que passam ao lado às pessoas teoricamente mais capazes e formadas.

Colaboradores motivados fazem melhores "treinadores". E com isto se conseguem equipas vencedoras e se captam os melhores jogadores, interessados em evoluir em agremiações estáveis.

Podem pensar que o que vos escrevo é uma utopia. Mas conheço exemplos de treinadores, vencedores crónicos e estrategas natos, dotados de inteligência acima da média que partilham esta filosofia. Os presidentes dos clubes que os contratam sabem que tenho razão. Porque, na hora de assinatura de contratos, na hora em que o assunto "dinheiro" - o tal vil metal que muitas vezes gera situações de egoísmo - é posto em cima da mesa, esses treinadores são claros: "aquilo que me der é para dividir por todo o meu staff".

Nos "staffs" como nas equipas que entram em campo, a máxima tem que ser a mesma: "um por todos, todos por um".

Francisco Fardilha (in FutsalPortugal)

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"Escrevo esta semana sobre a "profissão-hobby" de treinador, porque confesso ter ficado escandalizado ao saber que o técnico com que estou a trabalhar em Roma é o único do nosso campeonato com habilitação federativa...

Abra-se um parentesis para referir que não acho estritamente necessário ter-se um papel ou um diploma para se ser um bom treinador. Mas, apesar de em bastantes casos desadequada às reais necessidades dos candidatos, a formação de treinadores representa, na minha opinião, um atestado mínimo de conhecimento e capacidades, uma espécie de certificação básica de qualidade.

Só que, enquanto cursos de nível I custarem quase 500 euros e tiverem uma extensão tal que, logo à partida, invalidam a participação de muitos interessados, vai ser difícil massificar essa certificação. E vai ser mais complicado atingir, com a rapidez desejada, o crescimento qualitativo que todos queremos para a modalidade.

Já não é tempo de se ir para o treino e inventar meia dúzia de pseudo-exercícios para entreter os rapazes. Já não é tempo de se ir fumar cigarros para a porta do pavilhão ao intervalo enquanto os jogadores dão uns chutos na bola enquanto não passam os 10 minutos. Já não é tempo de, perante as naturais dúvidas dos atletas, perante o sistema x ou y ou a utilidade do exercício a ou b, responder-se "porque sim" ou "fazes o que eu digo e calas-te".

Felizmente, e cada vez mais, cavam-se distâncias de grande monta entre os verdadeiros treinadores e os "habilidosos". Vêem-se aqueles que realmente trabalham, investigam, inovam e respeitam os recursos físicos humanos de que dispõem a terem sucesso.

E vêem-se os treinadores de tasca a falar na falta de sorte e a inventar meia dúzia de desculpas esfarrapadas para o seu natural insucesso. Felizmente, os treinadores de tasca estão em vias de extinção. Mas espero sinceramente que amendoins e tremoços permaneçam entre nós durante muitos e muitos anos.

Francisco Fardilha (in FutsalPortugal)

Para quem conhece a realidade do RCVC, é curioso não é?

António Amaral

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